
Não consigo adormecer. Há um aperto no peito, sim, na região do coração... e talvez seja por isto que o coração é associado às emoções, à dor, à angústia, à desilusão... Porque a dor que se instala é bem nesta zona, onde ele está. é um aperto tão grande. como se estivessem a esmagar o nosso peito e a fazerem as lágrimas cairem dos nossos olhos.
Não têm tratado do meu coração com todo o cuidado que eu acho que ele merece. Talvez até seja eu que não sei tratar dele, ou então será a vida... que não me tem dado meios para tal.
As coisas não correm bem. Eu tento ter fé que não passa de uma fase menos boa, que toda a gente tem momentos menos felizes e que a vida é feito de altos e baixos... mas é difícil manter a fé nisso. Os meus altos são tão poucos e tão pouco altos... e os baixos são uma constante. Mal há um pequeninho espaço de tempo para sorrir e pouco depois aparecem mil e um motivos para chorar. Onde está a minha sorte? Onde está a minha paz, a minha calma, a minha vez para sossegar e poder ser feliz? Feliz com a vida, feliz sobretudo comigo. Não sou uma coitada, tenho uma boa família, um bom curso para ir fazendo, alguns amigos... Mas a verdade é que os triunfos na minha vida são difíceis de conquistar e os atropelos são muito fáceis de me acontecerem. Eu só queria um bocadinho de sorte para poder ter a minha fase de paz e de harmonia com a vida.
Eu sorrio, eu levanto a cabeça, juro que sim, mas há sempre um peso contrário a querer fazer-me baixá-la. Assim o fácil torna-se muito difícil e eu vou perdendo a força. Não quero perdê-la de forma alguma. Preciso muito dela para continuar a aprender coisas muito importantes que ainda me faltam para ser uma pessoa cada vez melhor, mais segura, mais confiante, mais feliz. Quero aprender que posso ser feliz sem depender dos outros, sem precisar de alguém sempre do meu lado, de mão dada comigo, a mostrar-me o caminho. Quero aprender que sozinha também posso estar e ser feliz. Quero saber ser auto-suficiente, dependente de mim apenas... Quero ganhar gosto pela minha vida, sorrir com as minhas vitórias e conquistas, chorar com as minhas derrotas, orgulhar-me do que sou e faço em cada dia, sozinha. Quero fazer-me feliz. Encontrar-me, talvez seja o que falta.
Não sei dividir-te com ninguém. Seja quem for. Não sei dividir o teu amor, a tua atenção, a tua vida com outro alguém. É difícil, para mim que te amo, ter de assistir, dia após dia, que outras pessoas entram na tua vida com grande facilidade e que te dás a elas de forma tão genuína e completa. De uma forma muito próxima da que te dás a mim. Não sei aceitar que sintas coisas tão especiais e peculiares por outra pessoa que não eu... que haja necessidade da presença constante, da partilha constante de e com outra pessoa. é difícil aceitar que outra pessoa se ache com o inteiro direito de te ter na vida dela quando precisa, que te queira com ela quando lhe apetece, que pegue em ti para ela quando quer. é difícil aceitar que sintas que a tua vida também é, agora, de outra pessoa que não eu. é difícil assistir à tua entrega, ao teu apego, ao teu cuidado e carinho, protecção e partilhas com outra pessoa. é difícil assistir à vossa união, aos vossos encontros, às vossas vidas em comum, às coisas que são só vossas. é difícil aceitar que tenhas outras pessoa com esta importância na tua vida. Uma importância que o egoismo do amor acha ser só minha. Há muitas "importâncias", muitas maneiras de se ser especial e esta, o meu coração diz-me que deveria ser só minha. é difícil perceber e encarar, dia após dia, que tenhas deixado que outro alguém entrasse desta forma na tua vida e se tornasse no que hoje é. é difícil aceitar que não tenhas deixado que eu fosse, para sempre, a pessoa especial.
É impossível ter de te dividir, seja com quem for, desta forma.
(os passarinhos, lá fora, já cantam. está a nascer o dia... vou tentar fechar os olhos e deixar a alma descansar)