
Não consigo definir o que sinto.
Durante todo o dia sorrio, rio e faço rir... Sou pedaços de sorrisos, de momentos felizes, de gestos e abraços que me alegram a alma. O dia é feliz. As horas passam e a alma não dói. Talvez não dê sinais, e seja isso. Talvez.
Entre uma e outra paragem, lá o coração aperta e o pensamento foge para longe. Mas rapidamente um ou outro tom de voz mais alto me traz de volta. E eu lá vivo, mais umas horas, entre risos e afazeres.
Quando a noite chega e o sol vai dormir, os risos, a azafama, as companhias,..., com ele se deitam também. E eu cá fico. O coração dá sinais. O peito fica apertado. Os pensamentos não param de correr de lado para lado. Esta parte do dia já dói. Já não sou forte. Já não sou sorrisos, risos e motivos de riso. Sou antes a mágoa escondida, as feridas deixadas por quem passou e não ficou. Sou o resto do que ainda fazia sentido existir. Sou angústia passada, presente e futura. Porque em cada noite, em cada fim de dia, volto a sê-lo.
Há esperança. Há vontade de amar e ser amada. Há vontade de sorrir com o teu sorriso, sejas lá tu quem fores. Há necessidade de um abraço, de uma palavra, de uma companhia. Mas que nada seja passageiro, inconstante, indefinido e incerto como é tão fácil e provável que seja.
Sim, sinto-me sozinha.
Sei que tu, tu, tu, tu e tu estão comigo. Mesmo assim há esta solidão a apertar-me o peito.
Tu, tu e tu já não estão. Quiseram ir. Com todo o direito.
Tenho sede de viver. De saber viver. Sozinha, se for o caso. Mas saber fazê-lo e saber ser feliz. Preciso.
Peço-te, meu Deus: se ainda estás comigo, faz-me forte. Faz-me capaz. Faz-me subir cada escada desta vida sem desanimar com o peso que os meus pés carregam. Faz-me ter esperança no topo do escadario e na possível felicidade que lá me espera. E, se não for pedir muito, ajuda-me a encontrar essa felicidade pelo caminho. Para que me acompanhe na caminhada e me leve ao colo quando as pernas já não mais força tiverem.
Deixa-me amar.
(ao som de "Chuva", Mariza)